sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Reflexões e Perspectivas para o Natal e Ano Novo


Uma amiga muito próxima e querida me enviou uma mensagem outro dia que me fez pensar sobre uma questão muito interessante: a fé.
A mensagem falava sobre um aluno que enfrentou seu professor, afirmando a existência de Deus. Nesta ocasião, para provar a Sua existência, e a fé do menino, Deus deveria fazer com que uma barra de giz permanecesse inteira depois de ser jogada, pelo homem, ao chão.
O giz não se quebrou, o professor ficou envergonhado e rapaz satisfeito por ter podido provar a sua fé. Prova irrefutável da presença divina.
De fato, é maravilhoso poder contar com um Deus onipresente, que nos ampare e nos atenda, ainda mais quando precisamos.
E foi justamente sobre isso que eu fiquei pensando: e se Deus não nos atende, Ele não existe, ou a gente não merece? E se o giz tivesse quebrado?
Lembrei inicialmente da súplica pela vida de um ente querido, súplica compartilhada, não rara vezes, com dor e desespero. Mas, que nem sempre, é atendida. Depois pensei nos cristãos jogados e devorados pelos leões. Lembrei de Jesus e da sua agonia no calvário. Na guerra, na violência e na droga, cujos efeitos catastróficos tem se feito sentir cada vez mais intensamente. Quem pode medir a dor nas lágrimas de uma mãe implorando a Deus pela recuperação do seu filho querido?
Tantas pessoas que seriam merecedoras, tantos pedidos justos que não são atendidos...
E pensei que seria muito bom se tivéssemos um Deus super-herói, que, no auge das nossas aflições aparecesse e nos salvasse “nos livrando de todo o mal”.
Mas, ao mesmo tempo, não pude esquecer que aqui, na Terra, e em tantos outros mundos possíveis, ou não – dependendo do credo de cada um – eu, assim como cada ser humano, não sou um simples espectador, nem tão pouco ator ou atriz que representa um roteiro de um escritor. E o mais importante: que a minha insignificância, ou importância, não é maior e nem menor que a do outro: quem poderá jogar a primeira pedra? Então, isso não me faz ser nem mais, nem menos merecedor.
Além disso, vivemos em um mundo regido por leis físicas e naturais. Como eu posso, por exemplo, me espantar com a morte, se ela é condição para a vida?
Como ficar cego pela tristeza da separação e esquecer que, antes dela, houve a vida, o riso?
Por que me desesperar quando a minhas orações para outrem não são atendidas, se nós temos livre-arbítrio, e também arcamos com as responsabilidades das nossas ações?
      Alguma vezes, também me é conveniente esquecer disso. Parecer uma marionete, vítima dos caprichos de um poder maior. Ser uma “cobaia de Deus”, como infelizmente definiu Cazuza.
Mesmo quando as minhas preces não são atendidas, eu não deixo de sentir a presença de Deus: nos bons amigos que me consolam e mesmo nas amargas aprendizagens que a vida me oportuniza. Rubem Alves assinala o olhar, e o aprender a olhar na educação. É justamente o olhar que nos vai direcionando para aqui e ali, que nos faz caminhar e parar, ir mais rápido ou devagar. Viver é uma questão de perspectiva, de olhar, o que me remete à pergunta: o que somos capazes de enxergar?
Saber ver as oportunidades de crescimento é tão importante como saber ver além da dor, do sofrimento, do nosso orgulho e vaidade. Podemos ir tão longe quanto nos possibilita a nossa capacidade de olhar e de vislumbrar até mesmo aquilo que ainda não vemos.
A proximidade do Natal e do Ano Novo, e os sentimentos de renovação, que costumam nos tocar nessa época, me recordam uma canção do filme “O príncipe do Egito” (DreamWorks, 1998): ela inicia assim “Mais de um louvor, fizemos sem ninguém ouvir. Esperançosa é a canção, que está no coração [...] E diz também “Em tempos de dor, quando orar costuma ser em vão, a esperança é como as aves que migram no verão [...] Milagres são reais, quando se crê...”
Como estes versos são doces para mim! Eu acredito em milagres sim, milagres que nem sempre acontecem da forma e no momento em que eu quero. O maior deles: sou eu mesma. Somos nós. E toda a grandeza que a gente carrega, simplesmente por existir.
Como votos de final de ano, desejo um olhar mais confiante e amoroso para conosco, para os outros e para a vida. E toda a esperança e ânimo que dele resultam!